MBRF (MBRF3) sobe 6% após resultados do 3T: é para animar ou ainda vale ter cautela?

boi gado nelore na amazônia

O primeiro resultado pós-combinação de negócios foi positivo para a MBRF (MBRF3), junção entre Marfrig e BRF. Além disso, a companhia informou na noite de segunda que seu Conselho de Administração aprovou uma extensão ao programa de aquisição de ações, autorizando a compra de até 64,6 milhões de ações ordinárias adicionais em relação ao volume já recomprado desde o lançamento do programa. O prazo para as aquisições vai até 24 de março de 2027.

Com isso, às 12h45 (horário de Brasília), as ações subiam forte, 6,02%, a R$ 19,90, nesta terça-feira (11).

Olhando para os resultados, a receita líquida atingiu R$ 42 bilhões (9% maior em base anual), 2% acima da projeção do Bradesco BBI, impulsionada por volumes de 2,101 milhões de toneladas (4% maior no ano e 4% acima do esperado), devido ao forte desempenho da Carne Bovina da América do Sul e da BRF.

O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado consolidado de R$ 3,5 bilhões (9% menor no ano, mas 15% maior no trimestre) ficou 3% acima do esperado, quase inteiramente explicado pela Carne Bovina da América do Sul, enquanto a margem Ebitda (Ebitda/receita líquida) ajustada atingiu 8,4% (1,60 ponto percentual, ou pp, menor no ano, mas 0,55 pp maior no trimestre, em linha com o esperado).

O lucro líquido ajustado de R$ 680 milhões ficou acima do previsto (mas 13% menor no trimestre), beneficiado por uma menor alíquota efetiva de imposto, apesar das maiores despesas financeiras.

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A dívida líquida (incluindo arrendamentos e FIDC) totalizou R$ 48,3 bilhões, um aumento de R$ 4,2 bilhões em relação ao trimestre anterior, devido ao pagamento de dividendos (R$ 3,8 bilhões) e recompra de ações (R$ 731 milhões). A geração de caixa foi de R$ 383 milhões. Incluindo arrendamentos e FIDC, o índice de alavancagem encerrou o trimestre em 3,6 vezes (x) o Ebitda dos últimos doze meses (3,1x excluindo-os).

“Considerando as condições atuais do mercado, acreditamos que a MBRF entregou o máximo que podia. As margens da BRF se mantiveram firmes apesar do impacto da gripe aviária, a Carne Bovina da América do Sul apresentou resultados sólidos e ambas as unidades mantiveram o crescimento do volume –demonstrando uma execução comercial consistente. A força da plataforma da MBRF está agora mais clara do que nunca, combinando alcance global em carne bovina, liderança de mercado em aves e uma base única de alimentos processados, tudo dentro de uma estrutura simplificada”, avalia o BBI.

O Goldman Sachs avalia que a MBRF apresentou resultados consistentes no 3T25, com Ebitda sólido, lucro líquido positivo e alavancagem sob controle. O destaque, na opinião do banco americano, foi a BRF: o Ebitda absoluto cresceu 1% em relação ao trimestre anterior, apesar dos obstáculos temporários decorrentes da suspensão das exportações brasileiras de aves para a China, supostamente revertida em novembro, impulsionada pelo desempenho consistente de seu portfólio de alimentos processados.

Para os analistas do banco, a visão pessimista recente sobre as ações da MBRF tem se concentrado nas dificuldades de desalavancagem em meio a um ciclo de baixa no mercado de carne bovina dos EUA e uma potencial queda global no mercado de frango.

“Acreditamos que o desempenho da BRF, juntamente com os recentes comentários da Pilgrim’s e da Tyson apontando para o crescimento da demanda e a racionalização da oferta, devem ajudar a atenuar essas preocupações”, aponta a equipe de análise, reiterando a convicção de que a MBRF apresentará uma desalavancagem gradual e sequencial nos próximos trimestres, desbloqueando valor substancial para os acionistas. O banco reitera sua visão positiva e de compra para MBRF3.

A XP e o BBI, por sua vez, possuem recomendação equivalente à neutra para os papéis. O BBI continua a ver a ação sendo negociada com um prêmio em relação aos seus pares com base nos múltiplos, e a provável desaceleração do ciclo de aves sugere um cenário menos favorável para as empresas do setor de proteínas em geral.

A XP aponta aguardar por um horizonte mais claro antes de se posicionar nas ações. “Com muitos novos fatores e consolidando impactos da recompra de ações, aumento de participação na BRF, pagamento de direitos de retirada, além de dividendos e juros sobre capital próprio, preferimos aguardar à margem por mais clareza e reiterar nossa recomendação neutra”, afirmam os analistas.

Na mesma linha e com recomendação neutra, está a Monte Bravo. Os analistas da casa seguem com uma principal dúvida para a companhia: a estrutura de capital apresentou deterioração, já que houve um incremento relevante na Dívida Bruta e Líquida no trimestre. A companhia apresentou um cenário em que, se não tivesse realizado o pagamento de dividendos e alguns programas de recompra, sua dívida líquida teria caído.

A alavancagem da companhia em 3,6 vezes — incluindo leasing e o FIDC —, apresenta um patamar superior a de seus concorrentes, e em um cenário em que se pode ter uma desaceleração nas margens de aves e uma retomada ainda gradual da operação nos EUA.

“Dadas as dúvidas que temos sobre a estrutura de capital e os possíveis impactos da desaceleração das margens de Aves, temos uma visão neutra para os papeis da companhia. Também estamos aproveitando o resultado da MBRF para atualizarmos os preço-alvo do papel para R$ 21,50”, avaliam os analistas da Monte bravo.

Além disso, enxerga que a companhia resultante — apesar de ser uma gigante de proteínas — não deveria negociar nos mesmos patamares de múltiplos de outros players globais.

Janela de oportunidade?

Enquanto isso, a Genial Investimentos vê o 3T como uma “janela de oportunidade”. Do lado da BRF, o crescimento foi sustentado pelo patamar recorde de volumes, tanto no mercado doméstico (MD), que atingiu 340 mil clientes atendidos, quanto no externo (ME), com o volume puxado pelo retorno parcial dos embarques após gripe aviária, com diversificação de destinos para exportações e 16 novas habilitações. Já na Marfrig, a alta foi impulsionada pela recuperação de preços na América do Norte, além do ramp-up (início de produção) das plantas no Brasil retorno das operações no Uruguai ao escopo consolidado na América do Sul.

Os analistas da Genial observam que, entre 18 de setembro e 24 de outubro, as ações da companhia se desacoplaram de seus fundamentos ao caírem 43%.

“Acreditamos que, nesse intervalo, não houve qualquer elemento novo que justificasse uma correção dessa magnitude do ponto de vista lógico”, apontam. Entretanto, um ponto importante de se considerar é que a Marfrig, antes de realizar a incorporação das ações da BRF, pagou R$ 2,43 bilhões em dividendos extraordinários. Esse montante correspondeu a R$2,81/ação (cerca de 11% de Dividend Yield), número muito robusto.

A casa de análise avalia ser normal algum nível de compressão das ações logo após a data ex-dividendos, que no caso foi 19 de setembro. Entretanto, geralmente a intensidade da queda é próxima do valor pago, o que não ocorreu. Nessa situação, a ação despencou quase 4 vezes mais do que seria a correção ajustada pelos dividendos.

Segundo a percepção diante de conversas com investidores, o movimento atípico refletiu um excesso de ceticismo ligado ao (i) nível de alavancagem da MBRF como nova companhia de cerca de 3 vezes a relação entre dívida líquida e Ebitda (versus 2,2 vezes da JBS e 3,2 vezes da Minerva), (ii) processo de aterrisagem das margens do ciclo do frango — do qual o mercado já tinha ciência desde a transição entre o 3T-4T24 — , e (iii) base acionária que veio da BRF descontente com as medidas tomadas pela companhia no que diz respeito a relação de troca de 0,85, indicador esse que também já era público desde o anúncio da fusão (em 15 de maio).

Com isso, muitos investidores se posicionaram para a queda das ações. Contudo, depois que foi anunciado o acordo com a Halal Products Development Company (HPDC), subsidiária integral do fundo soberano da Arábia Saudita, para expandir a sua joint venture, dando origem à Sadia Halal, as ações dispararam. O acordo foi visto como positivo, pois amplia os negócios da empresa no segmento halal, ajuda a reduzir dívidas e pode até levar a uma oferta pública inicial (IPO) no futuro. Com isso, em apenas duas sessões, os papéis saltaram 23%.

“Após isso, a ação parece estar se recuperando a cerca de R$ 18,70, patamar onde negocia atualmente, mas apenas devolvendo parte da perda (-29% versus -43% anterior). Assim, mesmo com essa alta recente, a companhia ainda negocia bem abaixo do patamar do dia 18 de setembro (cerca de R$ 18,70 versus cerca de R$ 26,50), indicando um desconto relativo”, avalia a Genial. A recomendação segue de compra para MBRF3, com preço-alvo de R$ 23.

De 9 casas que cobrem o papel consultadas pela Reuters, a maioria tem cautela. Isso porque 5 possuem recomendação de manutenção, 1 de venda e 3 de compra.

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