
(Bloomberg) – Gestores de fundos de mercados emergentes estão de olho na América Latina para sua próxima grande operação, já que uma onda de eleições iminentes pode redesenhar o mapa político da região, potencialmente alinhando vários países de forma mais estreita a Donald Trump.
A atenção renovada surge após a enorme valorização da Argentina depois da vitória do presidente Javier Milei nas eleições de meio de mandato, com um apoio sem precedentes dos EUA. Para muitos, isso tornou o país um estudo de caso de como mudanças políticas de direita — e especialmente aquelas percebidas como favoráveis a Trump — podem desencadear ganhos em ativos de países em desenvolvimento.
“Estamos diante de uma potencial mudança de tendência para a direita na América Latina”, disse Pramol Dhawan, chefe de gestão de portfólio de mercados emergentes da Pacific Investment Management Co. “Se houver uma oscilação para a direita, esses ativos despencarão — não haverá nada remotamente parecido com os retornos obtidos nos mercados locais brasileiros ou colombianos.”
Chile, Colômbia e Brasil, algumas das maiores economias da região, realizarão eleições presidenciais nos próximos 12 meses, e os investidores esperam uma mudança para uma abordagem mais favorável ao mercado nos três países.
No centro das negociações, juntamente com a Argentina, estão países como El Salvador e Equador, que os investidores consideram mais alinhados aos interesses dos EUA. Os títulos em dólar desses três países renderam aos investidores ganhos de pelo menos 24% desde a eleição de Trump no ano passado, segundo dados compilados pela Bloomberg. Isso se compara a um retorno de 13% para um índice de referência da dívida soberana de países em desenvolvimento.
A dívida de países alinhados a Trump superou a de seus pares em mercados emergentes.
A alta destaca como alguns fundos estão buscando resultados específicos das eleições como um fator determinante para os movimentos do mercado. A Zaftra, um fundo de hedge brasileiro especializado em apostas relacionadas a eleições, registrou seu melhor mês da história em outubro, com ganho de 9,2% após taxas, lucrando com a vitória de Milei nas eleições de meio de mandato.
O fundo, lançado em 2023, também construiu uma posição otimista no peso chileno antes do primeiro turno das eleições, que viu outro candidato de direita ganhar destaque, segundo Felipe Sze, gestor de portfólio da ASA, empresa financeira do bilionário Alberto Safra, que administra o fundo.
A alta destaca como alguns fundos estão buscando resultados específicos das eleições como um fator determinante para os movimentos do mercado.
Mudando dinâmicas
“A forma como a administração Trump vê o hemisfério ocidental é como seu quintal, com os EUA não apenas tendo o direito, mas a obrigação de intervir — particularmente quando se trata de contrariar a influência da China em países com forte presença da mineração, como o Chile”, disse Petar Atanasov, co-chefe de pesquisa de títulos soberanos da Gramercy Funds Management.
A empresa está otimista em relação ao Chile para o ciclo de 2026, analisando tanto os títulos soberanos quanto o peso. “Acreditamos que o Chile precisa recuperar o atraso no mercado cambial”, disse Atanasov, acrescentando que qualquer melhora nas relações com Trump seria muito positiva.
O primeiro turno das eleições no Chile, no último fim de semana, viu o ultraconservador José Antonio Kast emergir como favorito para o segundo turno, em 14 de dezembro, provocando uma valorização do peso antes que o clima em relação aos ativos de risco se deteriorasse globalmente. As pesquisas na Colômbia e no Brasil apontam para uma crescente frustração com os atuais presidentes de esquerda, Gustavo Petro e Luiz Inácio Lula da Silva, aumentando as chances de resultados mais favoráveis ao mercado no próximo ano — cenários que os investidores consideram positivos para os ativos da região.
“Onde esperamos mudanças, é porque o eleitorado está frustrado com os atuais governos”, disse Graham Stock, estrategista sênior de títulos soberanos de mercados emergentes da RBC Bluebay. “Isso é verdade no Chile e provavelmente na Colômbia, onde Petro decepcionou.”
Influência Limitada
Os ativos de mercados emergentes têm apresentado ganhos generalizados em 2025, à medida que os investidores se afastam dos mercados americanos em meio à volatilidade política. Reestruturações de dívida, progressos em acordos com o FMI e altas nos preços das commodities também contribuíram para sustentar os ativos. E a proximidade com o líder americano nem sempre se traduziu em benefícios — Narendra Modi, da Índia, por exemplo, ainda não fechou um acordo comercial com a maior economia do mundo.
Ainda assim, o nome de Trump tem tido grande influência nos mercados em desenvolvimento. Na Hungria, o primeiro-ministro Viktor Orbán mencionou a possibilidade de um resgate semelhante ao da Argentina — o que intriga os investidores que estão aproveitando uma das melhores altas dos ativos emergentes.
Na América Latina, a recalibração política em torno da mudança na política dos EUA chegou até mesmo a um dos créditos mais problemáticos do mundo. Uma postura mais dura de Trump em relação à Venezuela está impulsionando os títulos inadimplentes do país, alguns dos quais dobraram de preço, à medida que os investidores apostam na possível destituição do líder socialista Nicolás Maduro.
“A probabilidade de mudança de regime aumentou muito — passamos de nenhuma esperança de mudança para algo próximo de 50/50”, disse Atanasov, da Gramercy.
© 2025 Bloomberg L.P.
The post Investidores buscam a próxima Argentina e Trump molda apostas – que incluem o Brasil appeared first on InfoMoney.
Fonte: Leia a matéria original

