Investidores redirecionam capital global enquanto curva de juros dos EUA muda de rumo

Clara Sodré, analista de fundos da XP.

A inversão da curva de juros americana e o chamado “tarifaço” vêm provocando uma reconfiguração relevante no fluxo de capitais internacionais. A queda dos juros nos Estados Unidos está levando investidores a buscarem oportunidades fora da economia americana, abrindo espaço para ativos de maior risco e impulsionando mercados emergentes.

“Estamos vendo uma reprecificação de juros globais. Essa mudança faz com que o dinheiro mude de direção”, explicou Clara Sodré, analista de fundos da XP, durante o programa Espresso Outliers, do InfoMoney. Segundo ela, apesar das narrativas sobre uma suposta fuga de capitais dos EUA, “não existem sinais de êxodo. O mundo não está abandonando os investimentos americanos, está apenas se reposicionando”.

Clara destacou que, embora países como China tenham reduzido gradualmente sua participação na dívida americana, Japão e Reino Unido seguem entre os maiores detentores de Treasuries, mostrando que os títulos dos EUA ainda são referência global.

“Mesmo após o tarifaço e toda a volatilidade, há uma entrada forte de fluxo, especialmente em ações e títulos de longo prazo”

— Clara Sodré, analista de fundos da XP.

Investidores buscam novas oportunidades fora dos EUA

A analista também chamou atenção para o impacto dessa realocação sobre outros mercados. Dados da XP mostram que, em 2025, os mercados emergentes vêm apresentando ganhos expressivos, tanto em renda fixa quanto variável.

“Estamos tendo um excelente ano para os mercados globais. Coreia do Sul, Espanha, África do Sul e Brasil estão entre os destaques”, afirmou.

O Brasil, inclusive, figura entre os dez mercados com melhor desempenho, em linha com o aumento do fluxo estrangeiro. Clara relatou que muitos investidores ainda negligenciam essa tendência por falta de informação ou por manter uma exposição excessiva ao mercado local.

“Não é sobre concentrar o patrimônio lá fora, mas sobre diversificar de forma inteligente”, ressaltou.

Segundo a especialista, o índice ACWI — que mede a performance dos mercados globais excluindo os EUA — subiu 27% em 2025, contra 15% do S&P 500. “Quem olha apenas para os Estados Unidos está deixando oportunidades importantes na mesa”, observou.

A revolução da IA e a transformação das carteiras

Outro tema central do evento foi o avanço da inteligência artificial (IA) e seu impacto sobre empresas e investidores. Clara destacou que, em várias regiões do Brasil, já há setores afetados pela automação, especialmente na área de tecnologia.

“Estamos vendo empresas substituírem funções humanas por IA, o que já começa a transformar o mercado de trabalho”, afirmou.

Segundo a XP Research, a IA atravessou três fases principais desde 2022: o avanço dos semicondutores, a corrida por infraestrutura e, agora, a etapa de otimização de negócios — em que empresas de diversos setores passam a aumentar receitas e eficiência com tecnologia.

“Essa é a fase mais promissora, com potencial de retornos significativos”, avaliou.

Para Clara, esse é um momento em que a diversificação e a gestão ativa se tornam indispensáveis. “Não é hora de concentrar a carteira. Ter gestores qualificados ao lado é essencial para capturar oportunidades e reduzir a correlação com o mercado local”, completou.

Gestores reforçam importância da diversificação e planejamento global

Entre os convidados do programa, Leandro Ayres, da XP International, comparou a diversificação a “jogar na primeira divisão da economia mundial”. Para ele, investir globalmente vai muito além de diluir riscos.

“É participar das grandes oportunidades de crescimento e ser sócio das empresas que estão inventando o futuro”

— Leandro Ayres, da XP International.

Ayres também destacou o papel da internacionalização no planejamento sucessório.

“Organizar investimentos fora do Brasil garante que o patrimônio seja transmitido com menos burocracia e mais estabilidade. É proteger a família das instabilidades da nossa economia local”, disse.

Lucas Brandão, responsável pela distribuição de fundos na XP, explicou que a volatilidade cambial não é mais um impeditivo para investir no exterior.

“Hoje, o investidor pode escolher fundos com ou sem exposição ao câmbio. A internacionalização ficou muito mais acessível e profissionalizada”

— Lucas Brandão, responsável pela distribuição de fundos na XP.

Olhar estrutural para os 99% do mercado global

O CIO da XP, Arthur Wichmann, reforçou que olhar para fora é uma decisão racional e inevitável.

“O Brasil representa menos de 1% do mercado de capitais global. Ignorar os outros 99% é acreditar que não existe nenhuma boa oportunidade fora daqui — e isso não faz sentido”, afirmou.

Wichmann lembrou que o investidor que busca crescimento precisa se expor às economias que lideram transformações tecnológicas e estruturais.

“As bolsas americana e chinesa estão no centro dessa revolução. É nelas que estão as empresas que há décadas vencem a disputa capitalista global”

— Arthur Wichmann, CIO da XP.

Por fim, Clara Sodré reforçou que a internacionalização não é apenas uma tendência, mas uma necessidade para quem busca proteger e expandir o patrimônio no longo prazo.

“A gestão ativa é a aliada do investidor global. O importante é sair do ruído de curto prazo e olhar para o mundo com visão estrutural”, concluiu.

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