
Na última quinta-feira (13), as ações da Hapvida (HAPV3) desabaram mais de 40%, mais precisamente 42,21%, na sua maior baixa desde a abertura de capital, em 2018. Com isso, a maior operadora de planos de saúde do Brasil perdeu quase R$ 7 bilhões em valor de mercado.
O movimento aconteceu após o resultado do terceiro trimestre de 2025 (3T25), com queda do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado em 20%, além de sinistralidade médica muito acima do esperado, aumento das provisões e outros números que não agradaram os investidores e levaram a revisões para baixo.
Antes mesmo do pregão abrir com a derrocada dos ativos na quinta, o JPMorgan já havia cortado a recomendação de HAPV3 de equivalente à compra para neutra, reduzindo o preço-alvo de R$ 52 para R$ 39.
Os analistas do banco viram que algumas pressões reveladas nos números do 3T25 provavelmente persistirão pelo menos durante a maior parte de 2026. “Por um lado, estão sendo realizados os investimentos estruturais necessários para lidar com as restrições de capacidade, reduzir o volume de reclamações e melhorar a percepção da qualidade do serviço, visando uma trajetória de crescimento mais sustentável. Por outro lado, a empresa não está colhendo os benefícios disso, pelo menos por enquanto, já que as adições líquidas permanecem limitadas, com alta taxa de cancelamento persistente e preços restritos”, avaliou o JPMorgan.
Além disso, aponta o cenário competitivo como “não sendo dos melhores”, com a Amil mantendo uma postura comercial “mais agressiva” em São Paulo, impondo “grandes obstáculos aos planos de crescimento” e à recuperação da alavancagem operacional da Hapvida — ao mesmo tempo que ofusca a visibilidade de curto e médio prazo.
Para o próximo ano, as projeções do JP Morgan estão por volta de 31% abaixo do consenso do mercado. O banco espera um lucro líquido ajustado de R$ 1 bilhão o no próximo ano, contra R$ 1,5 bilhão estimados pelo mercado.
O BTG Pactual, por sua vez, seguiu com recomendação de compra, mas cortou o preço-alvo de R$ 67 para R$ 50 por ativo.
Ao revisar as estimativas, os analistas ressaltam que, nos trimestres anteriores, a Hapvida havia mostrado sinais de estabilização nas questões judiciais, mas os resultados do 3T confirmam que ainda há desafios relevantes, como custos de novos hospitais e despesas SG&A (de vendas, gerais e administrativas) mais elevadas.
Assim, passaram a adotar uma postura mais conservadora, assumindo margens de Ebitda estáveis para 2026. O consenso ainda projeta expansão de 1 ponto percentual, mas os analistas cortaram suas estimativas oficiais de Ebitda para o próximo ano em 20%, e acreditamos que o mercado seguirá a mesma direção. “Mantemos recomendação de compra, mas reconhecemos que a capacidade de execução precisa melhorar significativamente para recuperar confiança”, avalia.
Em novo relatório após a queda das ações, o BTG Pactual também ressaltou que a teleconferência de resultados não conseguiu ancorar expectativas de margem, indicando que a recuperação deve levar mais tempo, dada a combinação de MLR (índice de sinistralidade médica) mais alto, novas unidades e volatilidade judicial.
O crescimento orgânico segue ausente, mesmo com avanços em verticalização e qualidade, enquanto a companhia perde participação sobretudo no Sudeste e não adicionou novas vidas em 2025, frente ao crescimento de 1,2 milhão da indústria.
O Ebitda dos últimos doze meses permanece estagnado há oito trimestres e as margens, antes estimadas acima de 17%, agora ficam em torno de 14%, com incerteza maior no plano para o Sudeste.
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Assim, para os analistas, o papel, antes considerado barato, tornou-se um “value trap” – ou armadilha de valor, um ativo que parece barato, mas que está caro por ser um investimento ruim e com problemas -, com cortes sucessivos de estimativas e P/L (preço sobre lucro) ajustado em cerca de 8 vezes (x).
Para o BTG, embora o fluxo de caixa descontado ainda indique alto potencial, a baixa confiança nas margens reduz a relevância do valuation, mesmo com cenários apontando potencial de alta.
“A conferência reforçou que pressões de custo, novas unidades e provisões judiciais devem prolongar a normalização”, ressalta o BTG.
Recompra pode dar suporte?
O banco ainda cita o novo programa de recompra de 70 milhões de ações, que surge enquanto investidores revisitam números e tentam entender a recorrência das margens baixas. Para o Bradesco BBI, o programa é considerável, com recompra de até 70 milhões de ações (15% do total; 24% das ações em circulação), além dos 20 milhões anunciados no mês passado, o que pode fornecer um suporte para o preço das ações.
O BBI também manteve recomendação de compra para as ações após o 3T, mas revisou o preço-alvo de R$ 51 para R$ 27, após incorporar resultados fracos e considerando, de forma conservadora, o benefício fiscal do ágio da NotreDrame Intermédica como um fator que pode elevar o potencial de valorização.
“Estamos reduzindo também nossa estimativa de lucro para 2026 em 42%, para R$ 863 milhões, com base na sinistralidade e Ebitda estável para o próximo ano, em 73,6% e 10,6%, respectivamente”, apontam.
Os analistas veem que os resultados do 4T25 devem permanecer desafiadores em outubro, com mais pressão de custos dos investimentos em andamento na rede própria e fraca alavancagem operacional.
Mesmo com compra para o ativo, o BBI adota um viés cauteloso em relação à fraca dinâmica e visibilidade dos resultados.
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