IPCA de outubro confirma desaceleração e reforça corte da Selic no início de 2026

Inflação no Brasil é pressionada por grupo de alimentação e bebidas. (Foto: Ke Vin/Unsplash

A deflação nos preços de alimentos em domicílio e os custos menores com energia elétrica foram os principais destaques na inflação de outubro, que registrou alta de 0,09%, abaixo das expectativas que eram em torno de 0,15%.

O resultado confirma a desaceleração do IPCA, mas não o suficiente para mudar postura do Comitê de Política Monetária (Copom), que renovou a Selic em 15% na semana passada. No entanto, os dados ajudam a confirmar o início do ciclo de cortes em 2026, o que gera impacto positivo na curva de juros, segundo especialistas ouvidos pelo InfoMoney.

Essa foi a menor variação de inflação para o mês de outubro desde 1998, destaca Pablo Spyer, conselheiro da Associação Nacional das Corretoras de Valores (Ancord).

Com esse resultado, a inflação acumulada em 12 meses caiu de 5,17% para 4,68%, o menor patamar em nove meses, de acordo com Spyer. “A valorização do câmbio e a estabilidade de custos na base da cadeia produtiva ajudam a consolidar esse movimento, abrindo espaço para que a inflação termine 2025 dentro da meta, hoje projetada em 4,46%”, avalia.

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Foco nos números

Segundo o Departamento de Pesquisas Econômicas do Daycoval, a surpresa veio na deflação em alimentos e alta menor em bens industriais, o que reforça o viés de baixa para a inflação deste ano.

A alimentação no domicílio recuou -0,16%, com destaque para as quedas de arroz e leite, de -2,49% e -1,88%, respectivamente. Os itens que mais subiram foram batata (alta de 8,56%) e óleo de soja (+4,64%). Além disso, as carnes vermelhas apresentaram alta menor do que o esperado. “Este resultado mantém o viés de inflação mais baixa neste grupo”, avalia o Daycoval

A média dos núcleos de inflação registrou alta de 0,25%, valor abaixo das projeções de mercado, que eram de 0,29%, segundo o economista Leonardo Costa, do ASA.

Um fator chave foi a queda de 2,39% nos custos de energia elétrica residencial em outubro. A economista-chefe do PicPay, Ariane Benedito, explica que a saída do bônus de Itaipu, que poderia pressionar o preço, foi compensada pela redução da bandeira tarifária (de vermelha patamar 2 para vermelha patamar 1). Essa mudança retirou cerca de 0,10 ponto percentual (p.p.) do índice, como destaca Costa.

Deflação em três dos nove grupos

Três dos nove grupos pesquisados apresentaram deflação, segundo o economista sênior do Inter, André Valério. Habitação foi o principal fator deflacionário, recuando 0,30% e gerando um impacto negativo de 0,05 p.p. no índice cheio. Em seguida, vieram Artigos de residência e Comunicação, com deflações de 0,34% e 0,16%, que retiraram, em conjunto, 0,01 p.p. do índice.

Na ponta oposta, os grupos de Saúde e cuidados pessoais e Despesas pessoais foram os principais responsáveis pela alta, somando 0,11 p.p. da variação do mês, avalia Valério.

Nos preços administrados, a mudança da bandeira tarifária e o fim do efeito do bônus de Itaipu atenuaram a pressão inflacionária com a queda da energia. Contudo, não houve a deflação esperada na gasolina, refletindo um repasse menor da redução de preços da Petrobras ao consumidor, destaca o Daycoval.

Entre outras altas, Costa avalia que se destacaram: Vestuário (+0,51%), impulsionado por calçados e roupas femininas, e Saúde e cuidados pessoais (+0,41%), devido ao avanço de planos de saúde e produtos de higiene.

Os bens industriais ficaram levemente abaixo do esperado, com destaque para a surpresa em automóveis usados, que teve deflação, e uma alta menor no etanol. A projeção é que esse grupo feche o ano em torno de 2,7%.

No grupo de Serviços, a alta ficou próxima ao esperado, com pressão em passagens aéreas, aluguel residencial e itens intensivos em trabalho em patamar elevado, segundo o Daycoval. Apesar disso, os serviços automotivos apresentaram uma deflação maior que a projetada. O banco ressalta que os serviços subjacentes permanecem em patamar elevado, o que representa um desafio para o Banco Central.

Inflação convergindo à meta

Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital, afirma que o resultado é ligeiramente mais benigno do que o esperado. “Mas o nível ainda elevado da inflação de serviços continua a ser um ponto de atenção importante para a condução da política monetária”.

Benedito, do PicPay, afirma que revisou a projeção de inflação de 4,9% para 4,6% no ano, com expectativa de convergência gradual à meta, sustentada por efeitos defasados da política monetária, estabilidade cambial e comportamento mais benigno dos alimentos.

O Daycoval tem projeção de inflação em 4,5% para este ano e de 4,1% para 2026.

O ASA segue projetando IPCA de 4,5% em 2025, mesmo percentual para 2026, mas com viés de baixa.

Juros

Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, afirma que, no conjunto, o resultado não muda o cenário de curto prazo.

Nesta terça-feira, foi divulgada a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a reunião da semana passada que manteve a Selic em 15%.

Victal diz que a ata deve ser lida como “uma barra um pouco mais baixa” para quem esperava o corte em janeiro, e o dado de inflação não altera essa leitura. A gestora projeta o início do ciclo de cortes em março, com o Banco Central mantendo o discurso cauteloso com foco na convergência da inflação à meta.

Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, também destaca que a divulgação da ata da última decisão de política monetária indicou que o Copom segue convicto em manter a taxa Selic em 15% por um período prolongado. A expectativa da casa é que o início de corte de juros ocorra em janeiro, com expectativa de redução da Selic para 10,5% ao longo de 2026.

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