Com ’20-e-poucos-anos’, eles venderam US$ 121 milhões em drones militares para os EUA

Soren Monroe-Anderson, à esquerda, e Olaf Hichwa, os fundadores da Neros, uma fabricante de drones, nos escritórios da empresa em El Segundo, Califórnia, em 3 de novembro de 2025 (Gabriella Angotti-Jones/The New York Times)

Soren Monroe-Anderson, um campeão de corridas de drones, tinha apenas 20 anos quando tentou vender seus drones para o exército dos EUA pela primeira vez. Ele os construía para as forças ucranianas na garagem dos seus pais com um amigo.

O exército não se interessou.

“‘Você não pode simplesmente entrar no Pentágono com 21 anos e vender sistemas de armas para o Departamento de Defesa,’” disse o amigo, Olaf Hichwa, relembrando a resposta de um alto funcionário do Departamento de Defesa.

Mas dois anos depois, Monroe-Anderson, agora com 22 anos, e Hichwa, que acabou de completar 24, estão vendendo drones para o Exército dos EUA.

A Neros, empresa que fundaram em 2023, foi selecionada para fornecer seus drones principais, chamados Archer, para o Exército, segundo documentos obtidos pelo The New York Times. A Neros é uma das três fabricantes americanas de drones escolhidas como fornecedoras para a primeira fase de um programa do Exército que compra drones descartáveis e de baixo custo.

Embora os termos financeiros específicos não tenham sido divulgados, o governo Trump destinou mais de US$ 36 milhões para o programa “Purpose-Built Attritable Systems” [“Sistemas descartáveis construídos para um propósito específico”] em 2026.

A escolha da Neros ocorre no momento em que líderes militares correm para alcançar adversários que têm a capacidade de produzir em escala industrial pequenos drones, que se tornaram cruciais na guerra moderna. O Exército pretende comprar pelo menos 1 milhão de drones nos próximos dois a três anos, disse o secretário do Exército, Daniel Driscoll, à Reuters na sexta-feira.

Soren Monroe-Anderson, sentado, durante um evento de teste de drones organizado pelo Exército dos EUA na Área de Treinamento Yukon, perto da Base Aérea Eielson, no Alasca, em 25 de junho de 2025 (Ash Adams/The New York Times)

Embora a paralisação do governo tenha complicado os esforços militares para comprar drones, alguns contratos já em andamento estão avançando.

O contrato com o Exército tem sido observado de perto como um indicativo de quais empresas americanas de drones dominarão o mercado. Para a Neros, isso acontece após levantar US$ 75 milhões em financiamento de risco, liderado pela Sequoia Capital, e receber um contrato de US$ 17 milhões do Corpo de Fuzileiros Navais para milhares de drones, além de um contrato internacional para fornecer 6.000 drones para a Ucrânia.

A última rodada de financiamento da Neros foi concluída na semana passada, elevando o total arrecadado pela startup para US$ 121 milhões e consolidando o status de Monroe-Anderson e Hichwa como prodígios da emergente indústria americana de drones.

Um drones da Neros durante um evento de teste organizado pelo Exército dos EUA na Área de Treinamento Yukon, próximo à Base Aérea Eielson, no Alasca, em 25 de junho de 2025 (Ash Adams/The New York Times)

A Defense Innovation Unit [Unidade de Inovação em Defesa], uma parte experimental do Pentágono com sede no Vale do Silício, tem apoiado a Neros por mais de um ano, com alguns especialistas em drones da unidade se referindo carinhosamente a Monroe-Anderson e Hichwa como “os garotos”.

Em um teste de voo no Alasca no último verão norte-americano, oficiais militares se aglomeraram em torno de Monroe-Anderson enquanto ele pilotava seu drone sem ser perturbado em direção a um dispositivo que tentava, sem sucesso, bloqueá-lo. Um drone Archer da Neros foi um dos vários voando ao redor do secretário de Defesa, Pete Hegseth, em julho, quando ele fez um anúncio em vídeo sobre mudanças de política para acelerar a produção doméstica.

Em uma entrevista em maio, o major Steven Atkinson, do Marine Corps Warfighting Lab, contou que procurava empresas americanas dispostas a fornecer pequenos drones como os usados na Ucrânia por menos de US$ 2.000 por unidade. Ele não encontrou nenhuma — até encontrar a Neros.

Uma evolução da tecnologia de drones da Neros na sede da empresa em El Segundo, Califórnia, um polo da indústria aeroespacial, em 3 de novembro de 2025 (Gabriella Angotti-Jones/The New York Times)

“Eles eram bem jovens, mas faziam FPVs,” lembrou Atkinson, referindo-se a drones com visão em primeira pessoa, pilotados por pilotos que usam óculos especiais para ver imagens da câmera do drone enquanto navegam com um controle joystick.

“O que eles conseguiram fazer é algo sem precedentes,” disse ele.

Monroe-Anderson e Hichwa adquiriram sua expertise no mundo das corridas competitivas de drones. Monroe-Anderson, que estudou no ensino médio em New Hampshire, e Hichwa, que cresceu em Maryland, passaram a adolescência montando drones a partir de kits e componentes que encomendavam da China. Eles estavam tão focados em voar e competir que faltaram a muitas aulas e aos bailes de formatura. Nenhum dos dois tem diploma universitário.

Os dois se conheceram em 2017 em uma competição de corrida de drones em Muncie, Indiana, e rapidamente começaram a trocar ideias sobre como fazer seus drones voarem mais rápido.

Olaf Hichwa, à esquerda, e Soren Monroe-Anderson, os fundadores da Neros, uma fabricante de drones, nos escritórios da empresa em El Segundo, Califórnia, em 3 de novembro de 2025 (Gabriella Angotti-Jones/The New York Times)

Monroe-Anderson era o melhor piloto, vencendo o Campeonato Mundial MultiGP em 2020. Hichwa era conhecido por sua habilidade em engenharia. “Ele é um gênio maluco,” disse David Spencer, outro piloto.

Na tentativa de superar o drone de Monroe-Anderson, Hichwa projetou uma placa de circuito para seu próprio drone que era mais leve do que as disponíveis no mercado, soldando-a ele mesmo. Ele acabou comprando uma máquina industrial da China que as produzia em massa, vendendo-as para outros pilotos por US$ 30 cada durante seu penúltimo ano do ensino médio. Uma versão aprimorada é usada no Archer da Neros.

Apesar de sua experiência em corridas, alguns desafios persistem. Pilotos de drones tendem a construir sistemas rápidos e ágeis, que exigem certo nível de habilidade. A Neros normalmente treina soldados para operar os drones Archer por cinco dias. Em contraste, a DJI, empresa chinesa que produz mais de 75% dos drones comerciais do mundo, é conhecida por drones que podem ser pilotados sem treinamento especial.

E a habilidade necessária para fazer um drone de corrida é diferente da expertise para fabricar dezenas de milhares. Na fábrica da Neros em El Segundo, Califórnia, cerca de 20 técnicos montam manualmente aproximadamente 2.000 drones por mês.

Tem sido especialmente desafiador fabricar drones baratos sem peças chinesas. Quase tudo o que usavam na adolescência — hélices, motores, baterias, rádios, câmeras — vinha de Shenzhen, China. Mas para vender ao exército dos EUA, a Neros teve que montar uma cadeia de suprimentos americana e provar que seus drones não contêm componentes críticos da China.

Fornecedores nos EUA “ririam da gente,” disse Hichwa. Rádios feitos nos EUA podiam custar até US$ 10 mil quando ele procurava um que custasse 30. Os fundadores logo perceberam que teriam que fabricar as peças eles mesmos e buscar fornecedores fora da indústria de defesa.

Em vez de usar chips comuns em equipamentos militares que custam centenas de dólares cada, a Neros usou um chip projetado para parquímetros, que custava US$ 1, disse Hichwa.

A inspiração para criar a empresa de drones veio da invasão da Ucrânia pela Rússia, que transformou seu hobby de escola em uma tecnologia de impacto mundial. Ucranianos estavam lutando contra as forças russas com quadricópteros simples adaptados com explosivos. No verão norte-americano de 2023, Hichwa trabalhava na Skywalk, uma startup de inteligência artificial em Palo Alto, Califórnia, quando Monroe-Anderson apareceu no seu trabalho, implorando para que voltassem a fabricar drones. Monroe-Anderson, que por enquanto optou por não ir para a faculdade, estava focado em ajudar a Ucrânia.

Hichwa aceitou como um projeto paralelo e logo se envolveu profundamente. Eles conversaram por telefone com ucranianos que Monroe-Anderson conheceu nas redes sociais e fizeram dezenas de drones que se encaixavam em pilhas fáceis de transportar. Naquele outono norte-americano, foram a Kiev e distribuíram seus drones para soldados ucranianos, coletando feedback sobre o desempenho. Conheceram o vice-primeiro-ministro Mykhailo Fedorov, que também é ministro da Transformação digital do País, que lhes disse que qualquer um que quisesse fornecer drones para a Ucrânia teria que produzir pelo menos 5.000 por mês.

A viagem reforçou o que eles já sabiam: a própria América é vulnerável. Rússia e China produziam milhões de drones por ano, enquanto os EUA mal fabricavam 100 mil.

Eles montaram sua base em El Segundo, um polo da indústria aeroespacial, onde sua paixão atraiu a atenção de investidores de risco e de Peter Thiel, que eventualmente concedeu uma bolsa Thiel a Monroe-Anderson.

“Quando encontramos fundadores assim, apostamos na trajetória deles,” disse Ian Rountree, da Cantos, uma firma de capital de risco que liderou a rodada inicial. Ele ficou impressionado que Monroe-Anderson conseguiu atrair funcionários muito mais experientes, incluindo Sean Wood, diretor de operações da empresa, que trabalhou na SpaceX por 12 anos. A Neros emprega 80 pessoas, quase todas mais velhas que seus fundadores.

Mas a produção em massa ainda é um desafio. No ano passado, Hichwa viajou a Shenzhen para encontrar os fornecedores chineses que lhe enviavam peças de drone quando ele era um piloto adolescente. Eles o receberam como cliente valioso, sem suspeitar que ele planejava abrir sua própria fábrica. Uma fábrica que produzia a marca de drones de hobby que ele pilotava no ensino médio agora fabricava 1.000 drones por dia para o exército russo, disse ele.

“Eles são, até certo ponto, meus amigos,” disse Hichwa. “Mas nos encontramos em lados opostos de um conflito armado.”

Ele disse que tentou lembrar o máximo possível sobre as máquinas que usavam, impressionado com o que seria necessário para a Neros alcançar esse nível.

“Estamos mal conseguindo fazer 2.000 por mês,” disse ele. “E eles fazem isso em dois dias.”

c.2025 The New York Times Company

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