Com instabilidade nos EUA, Europa atrai fluxo de investidores de crédito estruturado

Marc Forster, head da Franklin Templeton no Brasil, participa do Outliers Infomoney.

Com o aumento da incerteza nos Estados Unidos e a instabilidade de suas regras econômicas, investidores têm redirecionado parte de suas alocações para a Europa — especialmente no segmento de crédito estruturado.

A avaliação é de Marc Forster, head da Franklin Templeton no Brasil, que vê o continente como um mercado mais estável e regulado, o que o torna uma alternativa atrativa frente às turbulências norte-americanas.

“A Europa é um candidato claro para quem busca previsibilidade. É uma economia mais tradicional, menos volátil e com histórico de inadimplência menor”, afirmou.

Segundo Forster, o movimento de realocação se intensificou após o chamado “tarifaço”, quando investidores começaram a olhar para outras economias além dos EUA.

“Os investidores globais, que há anos concentravam recursos nos Estados Unidos, agora buscam novas oportunidades em mercados com melhor relação risco-retorno — e a Europa está no topo dessa lista”, completou.

O head da Franklin Templeton observa que o mercado europeu de CLOs (Collateralized Loan Obligations) tem mostrado vantagens em relação ao americano.

Esses títulos, que reúnem carteiras de empréstimos corporativos e as dividem em diferentes níveis de risco, são menos expostos a setores voláteis como tecnologia.

“Enquanto os CLOs dos EUA têm de 15% a 20% de exposição em tech, na Europa esse número é próximo de 10%. É um mercado mais pulverizado e com histórico de recuperação melhor em casos de inadimplência”

— Marc Forster, head da Franklin Templeton no Brasil.

Sem default desde 1996

As declarações foram dadas por Marc Forster durante sua participação no Outliers, programa do InfoMoney apresentado por Clara Sodré e Fabiano Cintra, que recebeu o executivo para discutir o cenário global de crédito estruturado e as oportunidades para investidores brasileiros.

Forster destacou que, desde 1996, nenhum CLO europeu de rating AAA registrou default — e apenas um caso isolado foi identificado entre mais de 14 mil tranches analisadas nos Estados Unidos.

“É uma estatística que reforça a solidez dessas estruturas. Mesmo em períodos de crise, os níveis mais altos de rating provaram ser extremamente resilientes”, afirmou.

CLOs 2.0 e o novo ciclo de crédito

O executivo lembrou que, após a crise de 2008, o mercado aprendeu com os erros e evoluiu para o modelo chamado “CLO 2.0”, mais transparente e com exigências regulatórias rigorosas.

“Hoje o gestor precisa manter parte do risco — o famoso skin in the game —, além de passar por testes mensais de cobertura e relatórios padronizados. A estrutura se tornou muito mais robusta”, explicou.

Forster ressaltou ainda que esses fundos são compostos majoritariamente por empréstimos corporativos pós-fixados, o que reduz a sensibilidade às variações de juros.

“Eles são atrelados a taxas básicas das regiões de origem. Isso protege o investidor em ciclos de alta ou de queda de juros, tornando a carteira menos volátil”, disse.

O gestor observou que os CLOs contam com mecanismos automáticos de segurança, que impedem a compra de novos empréstimos de baixa qualidade caso o portfólio seja afetado por estresse de mercado.

“Essas estruturas funcionam como um prédio com andares: quem está no topo — nas tranches AAA — é o último a ser atingido. A analogia é boa: se encher de água, quem mora na cobertura não molha o pé”, brincou Forster.

Liquidez e oportunidade em tempos de estresse

Durante a pandemia, os CLOs também mostraram resiliência e liquidez, segundo o executivo. Ele lembrou que em março de 2020, com o pânico global, os spreads de crédito dispararam e o valor dos ativos despencou, mas a recuperação foi rápida.

“Os gestores ativos puderam se reposicionar, descendo nos ratings quando os prêmios estavam abertos. Quem acreditou na reversão capturou toda a volta em 2021”, afirmou.

Forster compara o funcionamento do CLO a um fundo de crédito tradicional, mas com mais agilidade para recompor carteiras.

“Enquanto fundos de recebíveis no Brasil não têm liquidez imediata, o CLO permite realocar ativos dentro de seus bolsos. É um instrumento sofisticado, mas eficiente”, disse.

O head da Franklin Templeton destacou também o avanço da internacionalização do investidor brasileiro, que agora tem acesso a fundos globais a partir de valores baixos.

“Hoje é possível investir fora do país com apenas R$ 100. Isso é uma revolução. O brasileiro ganha uma pista lateral para continuar no crédito, mas fora do eixo doméstico, com spreads mais justos e risco mais pulverizado”

— Marc Forster, head da Franklin Templeton no Brasil.

De CLO 3.0 à diversificação global

Ao ser questionado sobre as diferenças entre CLOs, private credit e direct lending, Forster explicou que são mercados distintos, mas que começam a se aproximar.

“O CLO compra empréstimos concedidos por bancos. Já o private credit é o empréstimo direto feito por fundos ou private equity. Algumas estruturas mais novas começam a misturar os dois — o que pode dar origem ao CLO 3.0, com elementos de crédito privado e até de inteligência artificial”, explicou.

Mesmo assim, a Franklin Templeton, segundo o executivo, não vê necessidade de sobrepor estratégias.

“Temos times que fazem direct lending e originação de crédito, mas hoje os CLOs permanecem separados. Nosso foco é entregar ao investidor a melhor experiência possível dentro de cada produto”, completou.

Ao final da entrevista, Forster reforçou o papel da diversificação como proteção essencial em tempos de incerteza.

“Internacional não é sobre quando, é sobre por que não ainda. Risco existe sempre, então a diversificação também deve ser permanente”

— Marc Forster, head da Franklin Templeton no Brasil.

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