
WASHINGTON — O presidente Donald Trump quer custos de financiamento significativamente mais baixos e deixou claro que espera que o nome escolhido para substituir Jerome Powell na presidência do Federal Reserve (Fed) cumpra esse objetivo.
Mas divisões intensas dentro do banco central americano sobre o caminho a seguir para as taxas de juros indicam que isso pode ser difícil de entregar, criando um desafio para quem Trump selecionar para o cargo máximo.
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O Fed reduziu as taxas de juros em 0,25 ponto percentual. Foi o terceiro corte consecutivo desde setembro, o que levou as taxas para uma faixa de 3,5% a 3,75%. Ainda assim, a decisão esteve longe de ser unânime. Seis dos 19 formuladores de política do Fed expressaram discordância em relação ao corte, indicando preferência por manter as taxas como estavam.
Novas projeções para as taxas de juros divulgadas pelo banco central também destacaram quão pouco consenso parece haver sobre novos cortes no próximo ano. Sete autoridades não preveem nenhum, enquanto oito defendem ao menos meio ponto percentual em cortes.
Isso deixou Powell explicando, em entrevista coletiva, que uma gama tão ampla de visões é algo natural em um momento em que os objetivos do Fed de inflação baixa e estável e de um mercado de trabalho saudável estão em tensão.
Mas esse grau de dispersão pode se transformar em um grande obstáculo para o próximo presidente, que deve assumir em maio.
“Encaro o acolhimento da diversidade de visões no comitê neste momento como um tiro de advertência para o próximo presidente”, disse Vincent Reinhart, ex-economista do Fed e hoje na BNY Investments. “O próximo presidente precisa convencer seus colegas. Essa é a mensagem principal.”
As decisões de taxa de juros do Fed são tomadas pelo Comitê Federal de Mercado Aberto, que inclui os sete membros do Conselho de Governadores, o presidente do Federal Reserve Bank de Nova York e um conjunto rotativo de quatro presidentes dos outros 11 bancos regionais.
O presidente do Fed é apenas um voto nesse comitê, uma limitação que o secretário do Tesouro, Scott Bessent, enfatizou recentemente no que pareceu ser uma tentativa de calibrar as expectativas sobre o que o substituto de Powell poderá, afinal, alcançar.
Kevin Hassett, aliado de longa data do presidente e atualmente diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, é visto como o favorito para substituir Powell. Kevin Warsh, ex-governador do Fed, e Christopher Waller, governador em exercício, também estão entre os considerados.
Trump, que está perto de fazer sua escolha, não tem se furtado a expressar o que espera dela.
“Estou procurando alguém que seja honesto com as taxas de juros”, disse Trump na quarta-feira, 10, após criticar a redução das taxas pelo Fed por considerá-la pequena demais e atacar Powell pessoalmente. “Nossas taxas deveriam ser as mais baixas do mundo”, acrescentou.
Mas a reunião mais recente do Fed acentuou o quanto de resistência o próximo presidente pode enfrentar se parecer que está apenas cumprindo a vontade do presidente, em vez de fazer o que é mais apropriado para a economia.
“Se o próximo presidente chegar com uma agenda específica que não seja consistente com o pano de fundo econômico, acho que essa pessoa perde espaço imediatamente”, disse Tom Porcelli, economista-chefe do Wells Fargo.
Porcelli vê pouco espaço no próximo ano para custos de financiamento substancialmente mais baixos, dado que “esta não é uma economia que esteja caminhando para uma recessão”. Em vez disso, ele espera que o cenário do próximo ano peça duas reduções de 0,25 ponto, em março e junho.
Matthew Luzzetti, economista-chefe dos EUA no Deutsche Bank, vê ainda menos espaço para o banco central cortar no próximo ano.
Ele projeta apenas uma redução de 0,25 ponto, e não antes de setembro, com base na expectativa de que o crescimento acelere, o mercado de trabalho se estabilize e a inflação permaneça resistente. Essa combinação deve tornar o comitê “relutante” em cortar as taxas de juros, disse ele.
Trump certamente se oporia a um ritmo tão gradual de cortes, arriscando uma escalada em seus ataques à instituição, que opera de forma independente da Casa Branca.
Neste ano, Trump ameaçou repetidamente demitir membros do Fed e agora está envolvido em uma batalha judicial com uma governadora, Lisa Cook, cujo caso sobre sua tentativa de destituição será analisado pela Suprema Corte em janeiro.
Recentemente, o presidente testou uma nova forma de minar autoridades, alegando sem provas que seu antecessor, Joe Biden, pode ter instalado indevidamente quatro governadores no conselho.
Mas até mesmo uma pressão ainda mais intensa por parte do presidente dificilmente deve influenciar o atual quadro de autoridades do Fed, como evidenciado pela oposição vocal de alguns formuladores de política que têm preocupação com a inflação ficar travada acima da meta de 2% do Fed.
“É complicado por causa da maneira como a Casa Branca tem exercido pressão sobre o Fed”, disse Lael Brainard, ex-vice-presidente do Fed que mais recentemente atuou como principal assessora econômica do governo Biden.
“Alguns membros do comitê podem sentir que precisam deixar claro que não vão ser pressionados e que a independência do Fed é um atributo institucional valioso a ser preservado e defendido.”
O que corre o risco de emergir é um Fed muito mais fragmentado, que tenha dificuldade para transmitir uma mensagem coesa sobre o caminho da política à frente, alertou Brainard.
“Já é difícil comunicar a política monetária de uma forma acessível ao público em geral, e um padrão de dissidências constantes torna isso ainda mais complicado”, disse ela.
“Isso é uma perda real para o público em geral e pode causar uma corrosão da confiança na instituição, o que é realmente prejudicial.”
c.2025 The New York Times Company
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